21 de ago. de 2011

Falar repetidamente dos problemas NÃO ajuda


Estudo revela que os psicoterapeutas que socorreram a população de New York, no 11 de setembro, cometeram diversos erros. (E, atenção!, esses erros revelam muita coisa sobre as práticas em psicoterapia).


"Todos ficaram muito traumatizadas com o 11 de setembro":
não foi bem assim, não, viu?

Muitos psicoterapeutas voluntários usaram procedimentos que pioraram a situação das vítimas de trauma!


Dentre esses procedimentos errôneos, destaca-se o pedido insistente do "paciente" de reviver o trauma e falar detalhadamente do sofrimento que experimenta.

Acredita-se (por questões teóricas de algumas abordagem em psicoterapia) que tal procedimento ajude a aliviar a tensão e afins, mas a prática mostra que não é bem assim...

Falar dos problemas ocorridos no passado costuma dessensibilizar para um excesso de dor que eles causam. Isso pode ser muito bom no início, mas apenas no início do processo terapêutico. Parece que quando um paciente é ensinado a falar demais de seus traumas/problemas, ele acaba por se tornar mais habituado a sofrer, mas não melhora necessariamente por causa disso (Podendo até pegar certo gosto pela coisa...)


Verificou-se que a insistência em pedir que a pessoa esmiuce as memórias desagradáveis fez a maioria das pessoas sofrerem ainda mais. Ficar "remoendo" as mazelas não ajuda tanto assim quanto muitos terapeutas acreditam...



OBS: Da mesma forma, também acreditam que botar a raiva pra fora ajuda, mas já mostrei aqui no blog que não é bem assim...



Muitas abordagens em psicoterapia partem do pressuposto que falar repetidamente dos problemas ocorridos no passado é uma forma de resolvê-los ou ao menos amenizá-los.


IMPORTANTE: No lugar desse procedimento descobriu-se que outro, baseado em ensinar habilidades para lidar com a dor, funcionava melhor. Ou seja, um treinamento de habilidades emocionais visando a pessoa dar conta de lidar com os problemas no presente.


Apesar de viver tragédias, as pessoas
têm a capacidade de "se virarem" sozinhas:
muitos terapeutas parecem ignorar esse fato

Outro erro muito comum dos psicoterapeutas: subestimar a resiliência das pessoas.


Presumiram que muita gente sofreria de stress pós-traumático e que precisariam de muitos anos de psicoterapia para se livrar disso, e a realidade foi bem diferente: menos de 10% dos casos esperados foram de fato registrados.


O final do estudo que aponta essas falhas dos psicoterapeutas é mesmo magistral:

"Quanto mais os cientistas se aproximam de aplicar as suas abstrações favoritas a problemas do mundo real, mais difícil será manter o controle das variáveis inevitavelmente numerosas e resistir a um encerramento prematuro sobre as conclusões desejadas".

Essa conclusão me lembrou de uma frase do Skinner: "Ciência é a disposição para aceitar fatos, mesmo quando eles se opõe aos desejos".


Ou seja, não é simplesmente porque queremos ou porque simpatizamos com uma abordagem que uma prática psicoterapêutica vai funcionar...

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