Psicopatas nas empresas

Ontem uma garota me abordou, numa festa, dizendo que conhecíamos uma pessoa em comum.


"É o fulano", ela disse, "Entrei na empresa dele. Que você acha do Fulano?"


"Ele é um psicopata", eu disse.


Ela achou que fosse brincadeira, mas emudeceu quando vi que eu não sorri em seguida.

Um psicopata é um mestre da dissimulação


Explique que já trabalhei para o Fulano e com ele, e vi inúmeros indícios, durante 2 anos, de que ele poderia tranquilamente ser diagnosticado, por um psiquiatra, com o transtorno da personalidade antissocial. O histórico seguinte dele, depois que saí daquela empresa, só confirmou minhas suspeitas...


Em seguida, falei para ela como reconhecer um psicopata em um ambiente empresarial.


Compartilho com vocês:


1) São pessoas que dividem opiniões. Há um grupo que ama ele, de paixão, o admira e só faz elogios. Há outro que o odeia, dizem "Fique longe daquele cara". Não costuma haver meio termo: para ele é amor ou ódio.


2) O item 1 é explicado porque o psicopata é bom com os outros quando ele precisa, estrategicamente. Na primeira dificuldade ele pisa nos outros. E se for preciso para beneficiá-lo, ele destrói sua carreira sem hesitar. Portanto, se você ver alguém que, no mesmo dia, tenha bruscas variações de "bonzinho" a "malvado", desconfie.



OBS: Especial atenção para pessoas que são extremamente gentis no começo, quando estão te conhecendo, e a medida que "pegam intimidade", se revelam frias, distantes e manipulativas. É possível que seja aquela pessoa que contava histórias engraçadíssimas, mas em seguida passou a te tratar como lixo, sem razão aparente.



3) O psicopata é cruel. Não sente empatia. Já vi o Fulano, um antigo gerente da minha equipe, torturar uma estagiária por 20 minutos, cobrando metas impossíveis, e sair sorrindo da sala, enquanto ela foi para o banheiro chorar. No dia seguinte, falei a cena pra ele, ao que tive a seguinte resposta: "Se ela não aguenta, que peça demissão" (E saiu assobiando tranquilamente).

Psicopatas são hábeis em
fingir emoções (e ler emoções
alheias, também!)


4) Cuidado: em geral são bem-sucedidos. Costumam ter forte autoestima, boas habilidades sociais e fazem o que for preciso, inclusive coisas anti-éticas, para se dar bem. Por isso costumam estar posições de controle, ou chegar rapidamente nelas. Se alguém subir muito rápido na empresa (demonstrando os sinais citados anteriormente), tenha muuuuuuito cuidado com essa pessoa. Evite-a sempre que possível, e obedeça sorrindo quando inevitável.


5) Quase sempre eles têm um ou mais puxa-sacos fiéis. Psicopatas adoram bajuladores, especialmente pessoas carentes ou muito dependentes, que admiram genuinamente a auto-estima e sucesso deles.


Ficam aí as dicas.


Depois de identificar o psicopata, a melhor coisa a fazer é evitá-lo, se possível, e nunca se opor a ele, a não ser se estritamente necessário (Ainda mais se ele for poderoso na organização).


Um psicopata será bom para você, se tirar proveito nisso. Aliás, ele pode ser um valoroso aliado, portanto seja hábil em reforçar a "bondade" dele. Mas não duvide: assim que o reforço que você dar pra ele cessar, ele vai te tratar como estrume.


Boa sorte se você tiver que trabalhar com uma pessoa dessas!



Psicopatia - Análise Comportamental (Parte 2)

Continuando a série sobre psicopatia que comecei há 2 dias atrás, penso que é prudente descrever o que estou falando.
Duas caras: psicopatas são hábeis em esconder-se
atrás de comportamentos tidos como normais


"Psicopatia" é um padrão de comportamentos que envolve, fundamentalmente, insensibilidade às emoções alheias (em especial, ao sofrimento). Nem todo psicopata é um assassino, mas todo psicopata, por definição, é indiferente à ética, à empatia, a normas sociais sobre convívio e ao altruísmo.


O psicopata autêntico (em seguida falarei quais são os não-autênticos) tem um organismo diferente, do ponto de vista fisiológico. Eles reagem a dopamina (neurotransmissor precursor da adrenalina) de forma distinta. Resumindo: são biologicamente incapacitados de ter empatia e sentir emoções como piedade, compaixão, pena, remorso. O psicopata autêntico, portanto, tem uma síndrome orgânica que o torna insensível a um tipo específico de contingências: as emocionais envolvendo outros seres humanos (Ele só consegue amar a si mesmo).


Um psicopata pode até fingir emoções se isso for útil, de forma operante, para isso emitindo respostas motoras como sorrir, ou mesmo chorar. Contudo, eles praticamente não têm comportamentos respondentes emocionais, em especiais os encobertos. Exames de sinais fisiológicos mostram que ao se deparar com cenas de dor alheia, não sofrem alteração alguma das batidas cardíacas, da respiração, do PH do suor, das ondas cerebrais, etc.


Nesse video é mostrado um experimento que evidencia que os psicopatas não reagem emocional / fisiologicamente ao sofrimento alheio:
Mas e como isso começa? Quais os determinantes envolvidos na psicopatia?


Para um behaviorista há 3 níveis de determinação para para o comportamento: filogenético, sociogenético e ontogenético. Os 3 oferecem determinantes para a psicopatia, sendo que cada caso é formado por uma conjunção única desses.


A nível filogenético, a psicopatia seria determinada porque em algum momento da evolução do homo sapiens foi um bom negócio, para sobrevivência da espécie, ter 'psicopatas' por perto.
Num contexto de guerra perpétua,
psicopatas seriam úteis a uma socidade.


Parece estranho? Então pense na Idade da Pedra, onde estima-se que 1 em cada 4 pessoas morria por ser espancada por outras pessoas. Nesse contexto incrivelmente violento, ter um assassino insensível do seu lado era uma tremendavantagem evolutiva !


Em tese, a humanidade tem programação genética para, geração após geração, ainda produzir indivíduos psicopatas. Se for assim mesmo, por mais que cuidemos bem da sociedade, programando boas contingências culturais, sempre haverá psicopatas por aí...


O problema desse tese, contudo, é que ela não pode ser verificada experimentalmente.


Já os determinantes sociogenéticos podem.


Sabemos de forma experimental que a comportamentos psicopáticos podem ser condicionados, induzidos, ensinados socialmente.

Cito como exemplo o famoso experimento de Milgram, onde pessoas consideras normais foram induzidas a torturar outro ser humano. (Essas pessoas foram dessensibilizadas à dor alheia).
Milgram teria provado que a psicopatia
pode ser ensinada, em condições apropriadas


A conclusão do experimento foi que quase qualquer um pode se tornar um torturador cruel e até um assassino insensível, bastando para isso um arranjo apropriado de contingências que o faça achar que estava apenas seguindo ordens, portanto, sendo ético ao ser cruel.


Dessa forma, instituições sociais poderiam aumentar o índice de comportamentos psicopáticos. Diz-se, p.e., que o fundos de cobertura são investimentos que incentivam a psicopatia na Bolsa de valores. Uma outra instituição social que lucraria com psicopatas seriam as Forças Armadas, por motivos já explicados anteriormente.

Na Alemanha Nazista ser cruel
e insensível foi algo ensinado nas escolas,
porque era preciso militarizar em massa



Contudo, não sabemos se determinantes sociogenéticos podem gerar um psicopata autêntico. Talvez esses determinantes apenas permitam que pessoas imitem o comportamentos desses indivíduos (que, lembremos, são biologicamente distintos). Por outro lado, pode ser possível que os determinantes socio e ontogenéticos também alterem biologicamente o indivíduo. Mas não há consenso entre os especialistas sobre isso.


Já do ponto de vista ontogenético, há uma porção de possíveis determinantes para psicopatia. Dentre eles:

- traumatismo craniano sofrido na infância;


- experiências emocionais traumáticas (não precisa ser algo muito intenso: a separação dos pais já pode ser um estopim);


- uso crônico de substâncias psicoativas;


- etc.


Neste post procurei mostrar que existe uma grande variedade de determinantes possíveis para a psicopatia. É bom reforçar: nenhuma psicopatia é igual a outra. Cada caso é um caso. Alguns psicopatas podem ter chegado a esse padrão estável de comportamentos por um conjunto "X" de determinantes, e outros, por um conjunto "Y".


Por isso é tão complicado responder: "O que causa a psicopatia?". Porque, afinal, cada caso é um caso.


No próximo post falarei sobre possíveis tratamentos para psicopatia, e contarei mais do caso Edgar Siqueira, meu primo psicopata, com o qual iniciei esta série.

Transtorno Antissocial




O leitor Felipe Barros, assiduo aqui no Olhar Comportamental, pediu para eu escrever um post sobre Transtorno da Personalidade Antissocial.


Lembrei entao desta noticia, que saiu ha alguns meses.


Notem que o tal psicólogo entrevistou o réu uma vez, e por apenas 1 hora (provavelmente só passou uma entrevista fechada em inventário para ele!!) para concluir que ele tem uma transtorno.


Em seguida, disse que não é doença, mas explica porque ele age sem controle (e não é doenca? nossa!).


Outro ponto que denota confusão: o psicólogo disse que o transtorno da personalidade antissocial é igual a esquizofrenia (pois ele nao tem controle de seus atos), sendo que, segundo o DSM-IV, são 2 transtornos distintos, onde pode haver comorbidade, mas não necessariamente.

Psicopatas são indiferentes ao outro. Em geral são inteligentes
e manipuladores. Apenas uma pequena porção dos psicopatas,
contudo, cometem assassinatos.



O que casos como esse me parecem?


Que a defesa estava interessada em tornar o réu inimputável. Nao conseguiu desencavar uma "doenca de verdade" (esquizofrenia) e tentou empurrar um transtorno de personalidade como algo que isentaria parte de sua culpa.


Um transtorno de personalidade, algo que "nao pode ser considerado uma doença", é (nas palavras dos psiquiatras) um padrao persistente de comportamentos problemáticos que começa na adolescência.


Em nenhum momento os psiquiatras defendem que se trata de uma patologia orgânica, no cerebro, etc. Mas falam claramente em "padrões de comportamento". Contudo, há outros que dizem que a psicopatia é originada de uma falha no cérebro, que tira a capacidade da pessoa de sentir emoções pelos outros, isto é, de ter empatia, amar, respeitar, ter pena, etc.


Sobre isso, confira este video, em inglês, que mostra um experimento que evidencia que psicopatas não reagem a contingências emocionais da mesma forma que as outras pessoas. Eles são insensíveis a dor alheia:
A pessoa com "Personalidade antissocial", ou psicopata, seria aquela que é incapacitada biologicamente a ter uma vida emocional plena: ela sente amor apenas por si mesma, e não vê nada demais em tratar os outros como objetos (que por vezes precisam descartados).


Há suspeitas que a psicopatia esteja ligada a determinantes filogenéticos, mas tambéms se fala que ela poderia ser causada por traumas físicos e/ou emocionais na infância. Provavelmente ela é multideterminada (diversos fatores explicariam sua origem).