21 de ago. de 2011

Psicopatia - Análise Comportamental (Parte 2)

Continuando a série sobre psicopatia que comecei há 2 dias atrás, penso que é prudente descrever o que estou falando.

Duas caras: psicopatas são hábeis em esconder-se
atrás de comportamentos tidos como normais


"Psicopatia" é um padrão de comportamentos que envolve, fundamentalmente, insensibilidade às emoções alheias (em especial, ao sofrimento). Nem todo psicopata é um assassino, mas todo psicopata, por definição, é indiferente à ética, à empatia, a normas sociais sobre convívio e ao altruísmo.


O psicopata autêntico (em seguida falarei quais são os não-autênticos) tem um organismo diferente, do ponto de vista fisiológico. Eles reagem a dopamina (neurotransmissor precursor da adrenalina) de forma distinta. Resumindo: são biologicamente incapacitados de ter empatia e sentir emoções como piedade, compaixão, pena, remorso. O psicopata autêntico, portanto, tem uma síndrome orgânica que o torna insensível a um tipo específico de contingências: as emocionais envolvendo outros seres humanos (Ele só consegue amar a si mesmo).


Um psicopata pode até fingir emoções se isso for útil, de forma operante, para isso emitindo respostas motoras como sorrir, ou mesmo chorar. Contudo, eles praticamente não têm comportamentos respondentes emocionais, em especiais os encobertos. Exames de sinais fisiológicos mostram que ao se deparar com cenas de dor alheia, não sofrem alteração alguma das batidas cardíacas, da respiração, do PH do suor, das ondas cerebrais, etc.


Nesse video é mostrado um experimento que evidencia que os psicopatas não reagem emocional / fisiologicamente ao sofrimento alheio
Mas e como isso começa? Quais os determinantes envolvidos na psicopatia?


Para um behaviorista há 3 níveis de determinação para para o comportamento: filogenético, sociogenético e ontogenético. Os 3 oferecem determinantes para a psicopatia, sendo que cada caso é formado por uma conjunção única desses.


A nível filogenético, a psicopatia seria determinada porque em algum momento da evolução do homo sapiens foi um bom negócio, para sobrevivência da espécie, ter 'psicopatas' por perto.

Num contexto de guerra perpétua,
psicopatas seriam úteis a uma socidade.


Parece estranho? Então pense na Idade da Pedra, onde estima-se que 1 em cada 4 pessoas morria por ser espancada por outras pessoas. Nesse contexto incrivelmente violento, ter um assassino insensível do seu lado era uma tremendavantagem evolutiva !


Em tese, a humanidade tem programação genética para, geração após geração, ainda produzir indivíduos psicopatas. Se for assim mesmo, por mais que cuidemos bem da sociedade, programando boas contingências culturais, sempre haverá psicopatas por aí...


O problema desse tese, contudo, é que ela não pode ser verificada experimentalmente.


Já os determinantes sociogenéticos podem.


Sabemos de forma experimental que a comportamentos psicopáticos podem ser condicionados, induzidos, ensinados socialmente.

Cito como exemplo o famoso experimento de Milgram, onde pessoas consideras normais foram induzidas a torturar outro ser humano. (Essas pessoas foram dessensibilizadas à dor alheia).
Milgram teria provado que a psicopatia
pode ser ensinada, em condições apropriadas


A conclusão do experimento foi que quase qualquer um pode se tornar um torturador cruel e até um assassino insensível, bastando para isso um arranjo apropriado de contingências que o faça achar que estava apenas seguindo ordens, portanto, sendo ético ao ser cruel.


Dessa forma, instituições sociais poderiam aumentar o índice de comportamentos psicopáticos. Diz-se, p.e., que o fundos de cobertura são investimentos que incentivam a psicopatia na Bolsa de valores. Uma outra instituição social que lucraria com psicopatas seriam as Forças Armadas, por motivos já explicados anteriormente.

Na Alemanha Nazista ser cruel
e insensível foi algo ensinado nas escolas,
porque era preciso militarizar em massa



Contudo, não sabemos se determinantes sociogenéticos podem gerar um psicopata autêntico. Talvez esses determinantes apenas permitam que pessoas imitem o comportamentos desses indivíduos (que, lembremos, são biologicamente distintos). Por outro lado, pode ser possível que os determinantes socio e ontogenéticos também alterem biologicamente o indivíduo. Mas não há consenso entre os especialistas sobre isso.


Já do ponto de vista ontogenético, há uma porção de possíveis determinantes para psicopatia. Dentre eles:

- traumatismo craniano sofrido na infância;


- experiências emocionais traumáticas (não precisa ser algo muito intenso: a separação dos pais já pode ser um estopim);


- uso crônico de substâncias psicoativas;


- etc.


Neste post procurei mostrar que existe uma grande variedade de determinantes possíveis para a psicopatia. É bom reforçar: nenhuma psicopatia é igual a outra. Cada caso é um caso. Alguns psicopatas podem ter chegado a esse padrão estável de comportamentos por um conjunto "X" de determinantes, e outros, por um conjunto "Y".


Por isso é tão complicado responder: "O que causa a psicopatia?". Porque, afinal, cada caso é um caso.


No próximo post falarei sobre possíveis tratamentos para psicopatia, e contarei mais do caso Edgar Siqueira, meu primo psicopata, com o qual iniciei esta série.





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