25 de ago. de 2011

DIVÓRCIO E SEPARAÇÕES CONJUGAIS




O divórcio, quando ocorre, ou quando sua possibilidade se torna real na vida dos casados, é uma das mais importantes crises da vida do adulto.

No casamento, ambos os parceiros mudam ou evoluem com os anos, geralmente em diferentes ritmos, e não necessariamente em direções complementares, podendo surgir a necessidade de separação. Assim, diante de um casamento não satisfatório, começam a surgir inúmeros problemas no convívio e no relacionamento, que chamaremos aqui de desajustes conjugais. Ocorrendo a separação, ambos os ex-parceiros , independente de quem tenha tomado a iniciativa, passam por um período de sofrimento em decorrência da perda da relação, por pior que essa estivesse no período imediatamente anterior ao divórcio.Falaremos aqui em divórcio como sinônimo de separação de corpos e de domicílios, independente do tipo de casamento, seja civil, religioso ou consensual (amigável).


UMA MAIOR ACEITAÇÃO DO DIVORCIO


A maior facilidade legal para o divórcio e a diminuição da influência da religião com dogmas rígidos tornaram a separação um acontecimento mais aceitável, com as pessoas separadas sofrendo menor preconceito que no passado.

Uma mostra disso é o fato de no Brasil desde 1940 até 1990 , segundo o IBGE, o percentual de pessoas divorciadas, na população em geral, aumentou aproximadamente 15 vezes. Outro aspecto que contribuiu foi a busca mais acentuada pelo bem-estar individual, através da maior oferta de prazer (real ou ilusória) na sociedade atual para aqueles que abrem mão da vida a dois.

COMO SE PERPETUAN RELAÇOES DESAJUSTADAS NO CASAMENTO


Em um casamento, quando ocorre um desajuste conjugal, a responsabilidade pelo problema é de ambos os cônjuges, mesmo que aparentemente a situação aponte para um único responsável.

Isso porque ocorre o que pode ser chamado de acordo inconsciente entre os dois no casamento, isto é : um problema que aparentemente é de apenas um dos cônjuges, é, em geral, compartilhado ou até mesmo aceito pelo outro.

Assim, uma pessoa ao se casar ou manter-se casada o faz pelas virtudes do parceiro ou da própria união. Porém, com as virtudes, aparecem as diferenças e até mesmo os problemas.Questões sócio-culturais também são muito importantes na manutenção de casamentos muito desajustados, principalmente em culturas e classes sociais em que a mulher (ou o homem) tem uma educação rígida em relação ao casamento, não tendo uma vida pessoal própria, independente, mesmo profissionalmente, em que o casamento e a maternidade são vistos como meio de vida, muitas vezes por necessidade e não como opção. Além disso, muitos casamentos mantêm-se pela extrema dependência afetiva dos cônjuges um do outro, que faz com que desajustes intensos no casamento sejam tolerados, de modo que a tristeza pela perda do casamento seja intensa ou até insuportável, não permitindo uma separação mesmo que os problemas conjugais sejam vários.

CAUSAS DO DIVORCIO

Da mesma forma que ocorre com o casamento, o divórcio é uma questão única para cada dupla que se separa.

Geralmente a separação é mais comum entre casais que se uniram na adolescência ou entre membros de diferentes níveis sócio-econômicos e culturais. Também pessoas cujos pais eram separados têm maior tendência a resolver um problema conjugal optando pelo divórcio.

Outra experiência provocadora de tensões no casamento é a paternidade, fazendo com que o parceiro sinta menos prazer com o outro após o nascimento de filhos.

A presença de doença nos filhos também gera uma tensão ainda maior, sendo que casamentos em que um dos filhos morre por doença ou acidente têm uma tendência de cerca de 50% em terminarem no divórcio.

DIVORCIO E RELAÇOES EXTRA CONJUGAIS

Na meia idade (40 a 60 anos) 60% dos homens e 40% das mulheres tiveram pelo menos um encontro extraconjugal (segundo dados americanos). A maioria desses acontecimentos é mantida em segredo, mas a sua revelação raramente se transforma em causa suficiente para a separação.

Muitas vezes, contudo, a relação extraconjugal sinaliza insatisfações prévias dentro do casamento, de um ou de ambos os parceiros, e não necessariamente apenas insatisfações sexuais.

MOTIVOS PSICOLOGICOS PARA O DIVORCIO

Inúmeras e praticamente incontáveis podem ser as razões objetivas e práticas de separações. As pessoas que se separam podem atribuir a perda do amor, a presença de um relacionamento extraconjugal, o esfriamento sexual, as brigas constantes, a interferência dos sogros, a falta de dedicação ao casamento, e tantos outros que propiciam um desajuste conjugal.

Porém, da mesma forma que vimos antes em relação aos fatores inconscientes (não percebidos pela pessoa) que são capazes de manter uniões " desajustadas ", também ocorrem fatores psicológicos (inconscientes) da pessoa que agem na hora de optar-se por separações, além dos fatores objetivos, práticos, que se mostram mais evidentes.

Podemos falar nos seguintes fatores psicológicos que determinam as separações:





Escolha do cônjuge:

não é raro que uma escolha insatisfatória tenha uma repercussão através do divórcio somente após anos de casamento. O nascimento de filhos, o surgimento de rotinas, a estabilização da vida sexual, a maior independência dos filhos crescidos, entre outros aspectos comuns do casamento, porém geradores de ansiedade, podem levar a uma reflexão sobre a escolha do cônjuge apenas após anos de vida a dois.


Amadurecimento do casal:

uma segunda causa psicológica para o divórcio seria o amadurecimento desigual do casal. As mudanças naturais que ocorrem em cada pessoa ao longo da vida podem gerar nos parceiros de casamento diferenças que se tornam difíceis de conciliar.


Decadência dos aspectos saudáveis do casamento:

a diminuição do efeito saudável, ou terapêutico, do casamento é algo que muitas vezes determina seu fim. Não é raro que uma pessoa encontre no parceiro alguém que vai poder aliviar sua ansiedade ou angústia diante de alguns de seus problemas pessoais. É importante lembrar que isso, em si, não é algo anormal ou um problema em si. É algo natural das uniões. Porém pode extremar-se ou tornar-se um problema. Mas quando este lado de alívio da ansiedade dentro do casamento é rompido, a união pode acabar.


Mudança psicológica de um dos cônjuges:

muitas vezes o que pode aproximar duas pessoas são seus lados problemáticos, ou conflituosos. Assim, o divórcio pode estar ligado à melhora psicológica de um dos cônjuges, sem ser acompanhado pelo outro.


Surgimento de um problema psicológico em um dos cônjuges:

uma mulher pode ver-se diante de uma forte necessidade de separar-se de um marido que, com o passar dos anos, foi se tornando deprimido e alcoolista. Da mesma forma, um homem pode não mais conseguir manter-se com uma mulher que, diante das inseguranças e sentimentos depressivos do período de climatério (menopausa), começa a ter casos extraconjugais, como forma de reafirmar sua sexualidade e feminilidade, muitas vezes abaladas nesse período.


Ilusões sobre o divórcio:

às vezes pode também ocorrer da pessoa iludir-se a respeito da vida do divorciado (que seria mais prazerosa) e acabar optando pela separação. Portanto, não é tão raro ou estranho que separações retrocedam.

A CRISE DO DIVORCIO

Divórcio é um momento de crise importante na vida da pessoa. Em geral, ocorre uma reação de luto pelo fim da união, por pior que esta estivesse antes da separação. Falamos de luto pela tristeza decorrente da perda do casamento, tristeza que pode iniciar antes mesmo da separação definitiva. A maioria das pessoas relata sentimentos de depressão e angústia intensa, relacionada a dúvidas e mudança constante no humor na época do divórcio (às vezes alegre, eufórico, às vezes triste, outras irritado). Apesar de uma separação poder ocorrer de forma rápida, estudos mostram que o processo de recuperação psicológica da crise do divórcio leva cerca de dois anos para ter uma resolução satisfatória, quando torna-se possível que o ex-cônjuge seja visto de modo neutro (sem raiva ou rancor intensos ou, por outro lado, quando deixa de ser visto como "uma paixão insubstituível e perfeita"), com cada um dos separados aceitando sua nova identidade de pessoa solteira ou descasada.

OS FILHOS DO DIVORCIO

Como ficam as crianças após o divórcio é uma preocupação freqüente dos pais e daqueles que profissionalmente se dedicam a minimizar o efeito do divórcio nos filhos dos separados.

Portanto, conseqüência para as crianças existem, e mais ou menos, de acordo com vários fatores, incluindo a própria resolução favorável da separação para os pais, a idade das crianças e o seu grau de desenvolvimento.

Do ponto de vista da criança, é preciso levar em conta que a separação é um projeto dos pais. Muitas crianças conseguem ser razoavelmente felizes e sentirem-se bem cuidadas em famílias em que um ou ambos os cônjuges sentem-se infelizes.

Poucas crianças demonstram sentirem-se aliviadas com a decisão do divórcio.

Uma repercussão imediata dos filhos ao divórcio é variável de acordo com o desenvolvimento e a idade dos mesmos. As crianças mais novas, pré-escolares, de 3 a 5 anos, podem apresentar uma regressão depois que um dos pais deixa o lar, podendo voltar a urinar na cama, a serem mais solicitantes, demonstrando ter vários medos e a ter alterações no sono. Podem se tornar irritáveis e exigentes.

Crianças de 5 a 8 anos geralmente demonstram uma tristeza aberta pelo divórcio, freqüentemente se refletindo no declínio do rendimento escolar.

Na idade de 8 a 12 anos em geral a criança reage com raiva franca de um ou de ambos os pais, por terem causado a separação. Por vezes demonstram ansiedade, solidão e sentimentos de humilhação por sua própria impotência diante do ocorrido. O desempenho escolar e o relacionamento com colegas podem ter prejuízo nesta fase.

Vimos como as conseqüências do divórcio nas crianças a médio e a longo prazo é muito variável. Já os adolescentes sofrem com o divórcio muitas vezes com depressão, raiva intensa ou com comportamentos rebeldes e desorganizados.

Contudo, como escreveu Judith Wallerstein, uma importante estudiosa de separações conjugais, em " Filhos do Divórcio " : "quando os pais decidem pela separação após pensar bem e considerar cuidadosamente as alternativas, quando previram as conseqüências psicológicas, sociais e econômicas para todos os envolvidos, quando acertaram manter um bom relacionamento entre pais e filhos, então é provável que as crianças não venham a sofrer interferência no desenvolvimento ou desgaste psicológico duradouro. Por outro lado, se o divórcio for realizado de modo a humilhar ou enraivecer um dos parceiros, se o ressentimento e a infelicidade dominarem o relacionamento pós-divórcio, ou se as crianças forem mal amparadas ou informadas, se foram usadas como aliadas, alvo de disputa ou vistas como extensões dos adultos, se o relacionamento da criança com um ou ambos os pais for empobrecido e perturbado e se a criança se sentir rejeitada, o desfecho mais provável para as crianças será a interferência no desenvolvimento, a depressão ou ambos".



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