A seguir, os 12 passos adotados pelos Narcóticos Anônimos, comentados por mim:
1º. Admitimos que éramos impotentes perante a nossa adicção, que nossas vidas tinham se tornado incontroláveis.
COMENTÁRIO: Gostei desse. Ele indiretamente sugere que a pessoa precisa assumir o controle de sua vida, tornando-se potente para isso.
2º. Viemos a acreditar que um Poder maior do que nós poderia devolver-nos à sanidade.
COMENTÁRIO: Existe algo sim que é um "Poder Maior" que nós: nosso ambiente (a somatória de todas as circunstâncias sociais, biológicas, comportamentais, etc, das que faço parte, e sobre as quais posso exercer controle, também).
3º. Decidimos entregar nossa vontade e nossas vidas aos cuidados de Deus, da maneira como nós o compreendíamos.
COMENTÁRIO: Affff... Ah, qual é? Que tal ser coerente com o passo 1 e assumir para si mesmo o controle de sua vida? A pessoa precisa amadurecer para tomar o controle de sua vida, e se ver para sempre como uma criança que precisa "de cuidados" não me parece compatível com essa meta.
4º. Fizemos um profundo e destemido inventário moral de nós mesmos.
COMENTÁRIO: Entendendo esse "inventário moral" como uma série de reflexões e depurações éticas sobre a forma como você se comporta, acho uma ótima idéia. Bom passo!
5º. Admitimos a Deus, a nós mesmos e a outro ser humano a natureza exata das nossas falhas.
COMENTÁRIO: Não espalha, tá, mas quando as pessoas falam com deuses, elas estão falando consigo mesmas. I.e., partes não tateadas de si mesmas. Mais a frente explico isso...
6º. Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter.
COMENTÁRIO: Eliminar uma dependência (química) para instaurar outra (religiosa). Pode até funcionar, mas o vício só trocou de combustível.
7º. Humildemente pedimos a Ele que removesse nossos defeitos.
COMENTÁRIO: Que aconteceu com a assertividade louvada no ótimo passo 1?
8º. Fizemos uma lista de todas as pessoas que tínhamos prejudicado, e dispusemo-nos a fazer reparações a todas elas.
COMENTÁRIO: Muito bom! O ex-viciado precisa mudar seu ambiente, para garantir que os novos comportamentos obtenham reforço. Além de reparar danos do passado, ele precisa também evitar certos lugares e pessoas. Fazer isso é um grande ganho em assertividade.
9º. Fizemos reparações diretas a tais pessoas, sempre que possível, exceto quando faze-lo pudesse prejudica-las ou a outras.
COMENTÁRIO: Ou prejudicar a si mesmo, pois a tentação de voltar ao vício sempre existe quando volta-se a frequentar ambientes associados a ele.
10º. Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados, nós o admitíamos prontamente.
COMENTÁRIO: Punir o erro, mesmo que subjetivamente, é má abordagem. Ao invés da ansiedade associada a viver procurando por erros, que tal focar mais em acertos? Faltou falar da felicidade que é a consequência de fazer os 12 Passos corretamente...
11º. Procuramos, através de prece e meditação, melhorar nosso contato consciente com Deus, da maneira como nós O compreendíamos, rogando apenas o conhecimento da Sua vontade em relação a nós, e o poder de realizar essa vontade.
COMENTÁRIO: Um segredinho pra você: toda prece é uma meditação que não se assume como tal. Isso porque quando você fala com deus ou deuses, é na verdade com uma parte não-tateada do seu self que você está se comunicando.
12º. Tendo experimentado um despertar espiritual, como resultado destes passos, procuramos levar esta mensagem a outros adictos e praticar estes princípios em todas as nossas atividades.
COMENTÁRIO: Entendendo "espiritualidade" como um aspecto ético e estético da experiência do self-no-mundo, então acho esse um bom passo. É preciso lembrar que "espiritualidade" não é sinônimo de "religião" e nada tem a ver com fé, dogmas e rituais. Ocorre que as religiões meio que monopolizaram esse termo, "espiritual". Mas em sua origem, agir de forma espiritual é simplesmente levar em conta as consequências últimas de tudo que você faz, uma vez que você faz parte de um ambiente vivo e por isso sua vida está literalmente conectada a todas as outras que existem. É nesse sentido que eu, que não acredito em deuses, sou ou procuro ser extremamente espiritual.
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