23 de ago. de 2011

"Coerção e suas Implicações" (parte 6 de 8)


Na parte 5 desta série falei sobre fuga e esquiva.


Agora é a vez de falar do conteúdo do capítulo 10 do livro, "Entre a Cruz e a Caldeirinha", onde Sidman expande um efeito emocional comum tanto da fuga quanto da esquiva: a ansiedade.


Em um ambiente onde predomina o controle coercitivo as pessoas vivem ansiosas, o que significa que elas suas ações são controladas por estímulos pré-aversivos, o que resulta em comportamentos estereotipados de fuga e esquiva, além de respondentes emocionais de desconforto (emoções nocivas) que podem se tornar todo tipo de "doença mental" (de depressão até psicose, passando pelos transtornos de ansiedade).

Tomemos por exemplo uma empresa onde um chefe só sabe gritar com os funcionários, humilhando-os regularmente.


É bem provável que quem aguentar esse ambiente irá fazer o que ele manda, mas a um custo alto: os funcionários viverão ansiosos. Isso implica que alguns comportamentos podem ser aumentados (como fumar, beber, chorar, etc) e outros, diminuídos (como dar opiniões, sorrir, fazer amizade no trabalho, etc).

Em um ambiente onde as ordens são dadas de forma
coercitiva elas até podem ser obedecidas, mas a
um custo muito alto para todos (inclusive para o chefe).




A presença do chefe coercitivo é um estímulo pré-aversivo para os punidos. O que o chefe quer, a eficácia, até pode ser alcançado, mas provavelmente não por muito tempo: logo essas pessoas ficarão doentes ou pedirão demissão.


Ser um punidor, neste caso, funciona como uma armadilha de reforço: dá certo no curto prazo, mas só gera problemas no longo.


Sidman prossegue o capítulo respondendo a seguinte questão: "O que reforça o punir?"


A pessoa que pune está em um papel de destaque, de controle, no ato da punição. Isso por si só já é reforçador: "Eu mando aqui". Uma vez que ela pune está livre de ser punida, da ansiedade decorrente. Logo o primeiro reforçador para o punidor é um reforço negativo: "Se eu for mau com os outros, evitarei que sejam maus comigo". (Feliz ou infelizmente para o punidor, seu raciocínio está errado pois os punidos tendem a se rebelar, em atos de contracontrole, como veremos na parte 7 desta série).


Um segundo reforçador para o comportamento de punir é o fato de que ao fazer isso, a pessoa costuma ser atendida (receber atenção, que é um reforço generalizado) e até mesmo ter suas ordens cumpridas.

O sadismo é oriundo de um reforço positivo:
"Me sinto bem ao punir os outros
pois minha vontade é cumprida"




Logo, ele associa o punir com o ser obedecido, i.e., com a confortável posição de poder, controle. Ou seja, punir passa a ser reforçado positivamente ("Se eu punir, serei recompensado").


Esse raciocínio, contudo, também é falho, pois pode funcionar a curto prazo. A médio e longo prazo, leva à ruina do punidor na primeira oportunidade que os punidos tiverem de contracontrole.


A relação social que nasce desse vínculo pode ser chamada de sádica. Curiosamente, por conta da ansiedade coletiva já explicada anteriormente, algumas pessoas podem se sentir bem em ser punidas (podem achar que merecem ou o ato coercitivo pode liberá-las da ansiedade, paradoxalmente).


Instaura-se nesse caso um vínculo masoquista: "Mereço ser punido. Preciso ser punido".

Por condicionamento, algumas pessoas parecem só
saber se relacionar em vínculos sado-masoquista,
o que as condena aos males da ansiedade crônica


Pense em uma família onde a esposa grita com o marido na frente dos filhos todos os dias. No dia que ela não grita com ele, ele sente falta. "Alguma coisa está errada", e com esse pensamento ele passa a provocá-la para que ela grite com ele!


Como deu para perceber, ambientes de cultura coercitiva geram relações interpessoais bizarras... As pessoas, cronicamente ansiosas, fazem todo tipo de esquisitice, desde "maltratar porque ama" até "pedir para sofrer".


Na parte 7 falarei sobre um efeito diferente da coerção, além da ansiedade que torna as pessoas passivas: o contracontrole, que pode transformar os punidos em agressores!





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